Sol e Chuva Capitulo 16, 17 e 18
Bati a cabeça no volante, como se assim eu pudesse me punir pelo que eu estava fazendo. Eu estava me odiando. Eu queria muito ficar com Embry, mas só poderia fazer isso depois que eu o meu coração não estivesse mais ocupado. Teria que terminar qualquer coisa que eu tivesse começado com Jake, para poder seguir em frente. Para poder ficar com ele como ele merecia.
Um ganido chamou minha atenção – Já entendi, já entendi. – resmunguei abrindo a porta e descendo da caminhonete, tentando o máximo não descontar a minha frustração na porta, caso eu quisesse que ela continuasse no lugar. Levantei a cabeça deixando a chuva molhar meu rosto e atravessei rápido a calçada até chegar à porta do mercado, mas foi só abri-la que o cheiro insuportavelmente doce me queimou o nariz. Hesitei. Sabia que o mais certo era sair dali, mas a curiosidade falou mais alto. Que raios poderia um vampiro estar fazendo dentro de um mercado? Por acaso, eles vendiam sangue congelado ali? Me arrepiei com o pensamento. Entrei devagar olhando para os lados. O espaço não era grande, apenas havia duas caixas e alguns poucos corredores. Peguei um carrinho de compras e comecei a prestar atenção nos poucos clientes que estavam na loja. Quando virei o terceiro corredor quase trombei com outro carrinho.
- Desculpe! – mas então eu percebi os olhos dourados da moça me fitando assustada. Era uma Cullen eu tinha certeza. Logo o vampiro líder se posicionou na frente dela, ainda me olhando com curiosidade. E agora, o que faço? Fiquei alguns segundos a mais estudando a situação, por fim decidi ser simpática. – Olá! – cumprimentei com meu melhor sorriso que podia.
Eles pareceram descongelar aos poucos. Claro que sabiam quem eu era. – Olá! – me respondeu o vampiro loiro. A moça só acenou com a cabeça. Os dois também sorrindo cautelosos.
Desviei o carrinho e tratei de ir comprar o que eu queria. Quando cheguei ao caixa que me dei conta do que estava comprando: um saco de ração para filhotes e algumas latas de ração úmida. Com certeza os Cullens pensariam que era os ingredientes para o jantar. Ri sozinha do meu pensamento idiota. Entreguei o dinheiro para a caixa e peguei minhas sacolas. Caminhei rápido pra a caminhonete, acomodando as compras na caçamba. A chuva já havia parado.
- Com licença? – uma voz me chamou a atenção bem atrás de mim. Me virei rápido pra o vampiro líder que sorria um pouco mais distante do que uma pessoa normal estaria caso quisesse conversar. – Meu nome é Carlisle Cullen, eu sou o médico da cidade. – ele se apresentou. – Essa é minha esposa Esme Cullen. – ele disse colocando a mão no ombro da moça que estava um pouco atrás.
- Sou
Raindrop. – me apresentei, mas depois fiquei na duvida se Sam aprovaria aquilo ou não.
- Nós percebemos que você pertence ao grupo do Sam. – ele apontou.
Bom, não é como se eu tivesse dando uma informação preciosa. Afinal isso era evidente. Pensei. – Sim, sou.
Eles sorriram um pouco mais, talvez por eu estar sendo receptiva. Na verdade eu não conseguia vê-los como meus inimigos. Eles não faziam nada de errado, não era mesmo?
- Nós queríamos muito,
, que você passasse nossos agradecimentos a Sam, pela ajuda na noite passada.
- Ah sim. Pode deixar. – respondi mesmo não tendo certeza se faria ou não.– Nós só estávamos fazendo nosso trabalho. – falei já subindo na caminhonete. – Mas pode deixar que eu passo o recado.
- Obrigada
. – ele disse e depois sorriu e então os dois se afastaram.
Olhei para o filhote que estava escondido em baixo do banco.
- Não precisa ter medo bebê! Acho! – o filhote deu um latido em resposta. – Jacob vai surtar quando souber disso. – falei manobrando a caminhonete e começando a andar pela rua ainda com o asfalto molhado. Mas então me lembrei que Jacob não iria surtar, simplesmente porque ele agora não fazia mais parte da minha vida. Imediatamente meus olhos se encheram de lágrimas e fiz força para engolir o bolo que se formou na minha garganta..
Meu pai já estava em casa quando cheguei do mercado. Ele, a princípio tinha feito uma cara feia para o filhote, mas agora já dava pedaços de pão para ele, enquanto achava que eu não estava olhando. Eu estava preparando o jantar quando Embry chegou.
- Janta com a gente, Embry?- John perguntou ao vê-lo passar pela porta.
- Claro Sr. Raindrop! – coloquei mais um prato na mesa, me preparando mentalmente para a conversa que teria com Embry.
O tempo todo que ficamos a mesa, eu só acompanhei quieta a conversa dos dois sobre beisebol. Primeiro porque não era um esporte que me chamava atenção, já que no Brasil ele não é um esporte comum, e segundo porque minha cabeça fervilhava com a proximidade da conversa que teria que ter com Embry. De tempos em tempos ele me olhava mais seriamente, talvez estranhando minha quietude.
Peguei o sabão liquido e comece a passar a escova na louça, enquanto meu pai se postava em frente à televisão. – Eu te ajudo com isso. – Embry disse nas minhas costas. - Você lava e eu enxugo. – ele falou pegando o pano de prato nas mãos.
Dei uma espiada para sala confirmando se meu pai estava distraído. – Embry nós temos que conversar. – falei baixo.
- Eu meio que desconfiei disso. – ele disse secando um prato e colocando no armário.
- Sobre hoje mais cedo! – falei ainda fitando o copo em minhas mãos.
- Só me responde uma coisa, você ainda tem esperanças com o Jake?- ele perguntou agora se virando de frente e me encarando.
- Eu não tenho esperanças nenhuma, mas isso não muda o fato de não ser certo. Eu ainda não posso me envolver com ninguém. – tentei ser o mais sincera possível.
- Não pode ou não quer,
?- perguntou guardando o último prato.
- Tudo o que eu quero é ficar livre desse sentimento de vez. – levantei os olhos para encará-lo.
Ele me puxou para um abraço apertado. – Eu já te falei que sou paciente, não falei?
Passei os braços pela sua cintura quente. - Eu nunca vou te pedir isso, Em. – mas egoísta como eu era, por dentro eu berrava pra que ele não me deixasse e que fizesse de tudo pra que essa dor terminasse de vez.
Nós despedimos de John e fomos em direção a clareira começar a nossa ronda.
- Embry, eu me encontrei com um Cullen hoje. – falei enquanto caminhávamos pela trilha, antes de nos transformar.
Embry parou no mesmo instante e me encarou surpreso – Onde?
- No mercado. Sabe eu não acho que eles sejam perigosos. Eles me pareceram até bem simpáticos. Pelo menos os dois que eu conheci. – Então percebi que só tagarelava. Embry continuava parado me olhando incrédulo. – Que foi?
- Você falou com eles sozinha?
- Sim. Carlisle e Esme Cullen, foram como se apresentaram.
- Eu não acredito nisso!
- O que você queria que eu fizesse, me transformasse em loba no meio do mercado? – perguntei irônica.
- Não. Sair de lá era o mais lógico a fazer. Você não entendeu que eles são nossos inimigos?
- Eu entendi que a gente protege as pessoas. Eu não acho que eles são perigosos, por isso eu não os considero nossos inimigos. – respondi. Embry sacudia a cabeça negativamente. – O que eles fazem de errado?
- Não interessa o que eles fazem e sim o que são. Eles não estão nem vivos. Espero que Sam nunca ouça você falando isso.
Rolei os olhos. Me afastei de Embry e, quando tinha certeza que estava escondida, tirei minhas roupas e coloquei na mochila. Com um salto me transformei. Agora já era fácil deixar o fogo correr pelo meu corpo. Já fazia parte do que eu era. Joguei meu corpo prateado para frente, correndo até a clareira.
Boa noite !
Jared? perguntei confusa.
Sam fez umas mudanças nas escalas ele explicou.
Entendi tudo na hora, Jake havia pedido para trocar de turno com Jared. Por mais que aquilo tivesse me chateado eu compreendi que seria melhor assim mesmo. Por mais que a saudade no meu peito fosse imensa.
Peguei uma carona com meu pai para meu turno na loja. Claro que ele só me deixou lá e se mandou, dando desculpas que precisava ir até a marina ver um motor novo para o barco dele. Chris ainda não havia chegado da hora do almoço. Entrei na loja virando a plaquinha de OPEN e indo para trás do balcão me debruçando sobre ele.
-Credo, que cara de ressaca que você está! – Chris disse entrando pela porta. Só levantei os olhos para ele. – Que aconteceu darling? - Chris deu a volta no balcão e parando ao meu lado com um olhar preocupado.
- Acabou! – foi a única coisa que consegui falar sem que as lágrimas teimosas voltassem a escapar.
- O que acabou?
- Tudo! – respirei fundo - Jake disse... disse... – eu não sei se conseguiria falar, ouvir aquela história em voz alta me fazia reviver tudo aquilo.
- O Black disse o que, criatura?
Mordi o lábio inferior tentando criar forças para repetir as palavras de Jacob. – Ele disse que era para que eu ficasse com o Embry. – resumi.
-Mas você não disse o que sente por ele?- Chris perguntou colocando as mãos na cintura.
- Não disse com todas as palavras, mas... – larguei os ombros e suspirei.- ele entendeu.
- Tem alguma coisa estranha ai! – Chris resmungou apertando os olhos até que eles ficassem em só um rico.
A sineta da porta tocou anunciando a chegada de alguém. Dois turistas entraram na loja indo direto para o lado das varas de pesca. Chris foi atendê-los, me deixando com uma interrogação no meio da testa.
Após a saída dos clientes, Chris me pediu para contar o restante dos acontecimentos. – Primeiro me diz o que você achou estranho. – instiguei.
- Tá muito estranho
. O cara dá todos os sinais que tá afim de você, e de uma hora pra outra muda de idéia? Tem alguma coisa ai. -(N/A meninas prestem atenção no que Chris diz. Ele entende das coisas. ;))- O quanto os dois são amigos?
- Eles são muito amigos Chris. – falei, mas já não me permitindo criar esperanças com as conjecturas dele. – Mas não creio que isso tem alguma coisa haver.
- Porque não?
- Porque senão ele teria feito isso desde o inicio. – apontei.
- Só que ele não sabia o quanto você estava se envolvendo.
- Errado! Jacob não sabia que eu estava envolvida, e isso fez ele se tocar que o negócio estava sério demais. E fez ele pular fora, já que ele não queria se envolver. Afinal Jacob ama a Bella. – tentei resumir a situação da melhor maneira para que Chris entendesse o que se passava.
- Não acredito nisso ,
!
- Chega Chris! Acabou ok? Eu não quero mais ficar sofrendo com isso.
Chris levantou os braços em redenção. – E o Call? Já pensou o que vai fazer com ele?
- Não posso fazer nada enquanto não deixar de amar o Jacob.
- Só presta atenção no que eu vou dizer e não vou mais falar nisso até que você me autorize. – Chris falou com o dedo em riste. – Jacob não é idiota, ele só tem um coração enorme.
Um coração enorme que não tem lugar pra mim. - Chris eu já disse que não quero mais falar sobre isso. – falei indo pegar as caixas que haviam chegado com mercadoria.
- Tudo bem! – ele respondeu.
- Outra coisa Chris!
- Hmmmm?
- Onde compro um vestido para o baile do colégio?
- Port Angeles meu anjo!
Agora eu tinha algo que ocupar minha mente, planejar minha ida a Port Angeles comprar o bendito vestido para a festa. Meu celular vibrou no bolso da minha calça. Atendi sem nem olhar o visor.
- Alô?
A voz rouca atravessou o aparelho, aumentando minha freqüência cardíaca. - , é o Jake! - Falou como se meu coração não reconhecesse a voz dele.
- Oi Jake! – tentei controlar minha voz sem muito sucesso. Chris levantou os olhos me observando.
- Sam pediu pra te avisar que tem reunião hoje na minha casa.
Era só assuntos profissionais. – Ah sim! – tentei não parecer decepcionada.
- As 6 PM, ok?
- Eu estarei lá! Obrigada por avisar, Jake! - Só amigos, só amigos. eu repetia mentalmente com os olhos fechados sabendo que logo ele iria desligar. Queria puxar algum assunto para prolongar a conversa, mas nada me vinha na mente.
-
Esperei uns segundos, mas ele não continuou. – Sim, Jake?
- Eu ... – ele soltou um suspiro resignado no outro lado da linha.- ... te espero aqui em casa, então. Tchau!
- Tchau! – e ele desligou. Ainda fiquei encarando o aparelho em minhas mãos por mais alguns segundos. Aquela última parte havia sido estranha.
Eu estava parada no final da trilha há algum tempo. De onde eu estava via a casa de Billy muito bem. Bato ou espero alguém chegar para entrar junto? Me perguntava mentalmente. Desde quando fiquei tão medrosa? Respirei fundo e caminhei o resto do caminho até a porta e bati.
- Oi
! - Billy atendeu a porta sorridente.
- Oi Tio Billy!
- Entre e sente-se, Jake está tomando banho! – ele informou.
- Ninguém chegou ainda? – perguntei enquanto me sentava no pequeno sofá e observava que só Billy estava na sala.
- Não, acho que você chegou cedo! – ele disse sorrindo, o que marcava mais as rugas de seu rosto. Cedo? Olhei o relógio da parede que marcavam 6:15 PM.o.O – Sente-se aqui comigo,
. – disse se aproximando da mesa da cozinha. Me levantei e sentei a sua frente. Billy me analisava profundamente, parecia que estava vendo a minha alma. – Como você está? – ele perguntou depois de alguns segundos.
- Bem tio. – respondi tentando sorrir o melhor que podia.
- Você está sentindo falta do Brasil?
- Um pouco. Sinto muita falta da minha mãe.
Billy estendeu a mão e tocou na minha. – Tudo vai dar certo
! - assenti sem saber direito do que ele falava, mas torcendo que as palavras fossem verdadeiras. – Jake me disse que você tem uma belíssima moto.
- Sim, mas acho que vou ter que vende-la. – falei cabisbaixa.
- Porque querida?
- A garagem de John é pequena, e acaba eu tendo que deixá-la no lado de fora e isso... – mas então Jacob saiu do banheiro parecendo um monumento a um deus pagão, usando somente uma bermuda e me deixando completamente atordoada. Gotas corriam pelo seu peito caindo de seu cabelo ainda molhado.
- Você está ai? – ele perguntou com seu sorriso de sol me deixando mais deslumbrada ainda. Eu tentava raciocinar, sabia que tinha que responder alguma coisa, mas meu cérebro parecia que tinha ido dar uma volta e deixado um lugar vazio no lugar.
- Filho, a
estava me dizendo que vai ter que vender a moto. – Billy veio ao meu socorro.
- Por quê? – Jake perguntou se sentando na cadeira ao meu lado. Seu perfume me acertando em cheio. Tenha misericórdia!
- Porque a garagem de John é pequena demais.- Billy veio ao meu socorro novamente, agora sorrindo. Decerto estava se divertindo da minha idiotice. – Jake ,porque você não oferece um lugar na nossa garagem? Afinal lá tem bastante espaço.
- Claro, você pode trazê-la amanhã. – Jacob me disse.
- Não precisa, eu sei que darei outro jeito. – falei apavorada com a idéia. Já era difícil sem ter algo que me unisse a Jake. – mas muito obrigada por oferecerem.
- Para de besteiras,
. Se você não trouxer amanhã, eu passo na sua casa e busco ela, huh?
- Tá certo! – disse rendida no momento em que Sam seguido pelos garotos entraram pela porta.
- Olá Billy! – Embry se sentou a mesa conosco.
- Olá garoto!
-
passei na loja pra gente vir junto e Chris disse que você já tinha vindo. – Embry me disse.
- O recado que recebi era que a reunião era as 6 PM.
- Na verdade era as 6:30. – Embry me disse.
- Devo ter entendido errado. – falei dando de ombros.
A reunião se seguiu com a apresentação dos dois novos garotos do bando, Collin e Brad. O que me deixou muito surpresa já que eles não passavam de crianças, sendo mais jovens até do que o Seth. Até Sam e Billy pareciam apreensivos com uma transformação tão cedo. Alguns garotos atacavam a cozinha enquanto eu continuava sentada a mesa com Billy.
- Tio Billy, porque será que essas transformações estão ocorrendo tão cedo?
Ele me olhou seriamente. – Alguma coisa muito grande está para acontecer. – disse com a expressão fechada, me causando um frio na espinha.
Os garotos se despediram algum tempo depois, saindo uma a um. Juntei alguns copos e pratos que ficaram espalhados pela pequena sala levando até a pia da cozinha.
- Pode deixar isso ai,
.- Jacob disse parando atrás de mim.
- Não me custa nada ajudar Jake.- falei sem me virar para encará-lo. Só saber que ele estava ali, a poucos centímetros já me causava palpitações.
-
vamos? – Embry chamou da sala.
Larguei o pano de prato me virando rápido, mas tive que me segurar na pia. Jacob estava mais perto do que eu imaginava, seus olhos fechados com força, o maxilar tenso. Ele parecia concentrado. – Boa... Boa noite, Jake! – consegui colocar para fora. Me afastei dele saindo da cozinha e indo em direção a porta rua onde Embry me esperava.
-
espere! – Billy me chamou. Respirei fundo antes de me virar tentando disfarçar o quanto estava afetada. – Queria muito te mostrar uma coisa, você poderia ficar um pouco mais?
- Claro! – respondi, mas por dentro tudo que eu queria era sair dali e manter uma distância segura, mas parecia que mais e mais eu era puxada para aquela casa, para Jacob. – A gente se vê mais tarde Embry. – falei me virando para ele que continuava parado na porta. Embry assentiu me deu as costas e saiu correndo para a floresta escura.
Entrei caminhando devagar até o meio da sala onde assisti Billy ir empurrando a cadeira de rodas pelo minúsculo corredor que levava aos quartos. Jacob estava encostado na batente da porta da cozinha e me olhava com a expressão indecifrável com os braços cruzados na altura do peito. Tentei manter meu olhar fixo na porta onde Billy havia entrado.
Poucos segundos ele voltou com uma caixa no colo. – Não sei quando você vai voltar, então queria te mostrar o que nós temos guardado. – Billy disse colocando a caixa, um pouco maior que uma caixa de sapatos em cima da mesa. Me aproximei curiosa puxando uma cadeira e me sentando. Billy tirou de dentro algumas fotos me entregando. Eram fotos de Jacob e minhas quando crianças.
Jacob se sentou ao meu lado, também olhando as fotos da caixa. Ele sorria assim como eu, já que elas traziam as mesmas lembranças. Quase todas as fotos nós dois estávamos juntos. Engoli em seco quando a ficha caiu, eu baseei o meu amor naquelas lembranças. Lembranças de uma infância, já que éramos somente crianças, só isso. O bolo enorme se formando em minha garganta. As bordas da ferida no meu peito doendo. Ilusão, ilusão, ilusão. era só o que via em minha mente.
- Obrigada Tio Billy, adorei ver essas fotos, eu realmente não me lembrava delas, mas tenho que ir. – disse me levantando tentando não aparentar o que estava sentindo. Minha máscara desmoronando.
- Quer que eu te acompanhe? – Jacob perguntou também se levantando.
- Não precisa, eu já sei o caminho. – tentei mascarar minha angústia com brincadeira. Sorri para eles quase correndo porta fora. – Tchau tio Billy! Obrigada por tudo! Tchau Jake!- mal ouvi a resposta, sabia que Jacob tinha dito mais alguma coisa mais eu já sai pra noite, respirando o mais fundo que podia, corri para a escuridão o mais rápido que meus pés humanos conseguiam.
FOTINHO DO CHRIS

Eu e Chris fechamos a loja, no final do expediente daquela terça-feira. Aos poucos o movimento estava aumentando com a proximidade das férias de verão. Me despedi dele com um beijo no seu rosto. Ele já estava mais acostumado com esse tipo de cumprimento tão brasileiro. Puxei o capuz do meu casaco para proteger meus cabelos da chuva fina e coloquei os fones de ouvido do meu iPod, indo em direção a onde havia estacionado a minha moto. Eu tinha planejado uma ida a Port Angeles comprar o tal vestido para o baile de sábado.
Caminhei alguns passos, absorta em meus pensamentos, até perceber a figura enorme do garoto parado, encostado em um carro vermelho. Jake? Ele me observava sem se importar com a chuva que encharcava suas roupas. Levantei os olhos e sorri. – Oi Jake!- falei só diminuindo um pouco o passo, mas sem sair do meu caminho. Afinal ele estava ali parado, não queria dizer que estava me esperando.
Ele sorriu por um instante, mas depois ficou sério e se levantou do carro, me acompanhando até a moto. – Vai levar a moto até lá em casa agora
? – ele perguntou enquanto eu tirava a corrente e soltava o capacete.
- Hoje não, vou ir a Port Angeles, preciso comprar um vestido para o baile de sábado.
- Não quer ir comigo? Quer dizer... Com a gente? Estou esperando os garotos novos para levar no Hank. Sabe, fazer a tatuagem.
- Não obrigada Jake, - respondi posicionando o capacete sem baixá-lo completamente, e montando na moto. – Não me leve mal, mas eu estou com pressa e você... –sorri pra ele. – você é muito lento Jake. – terminei a frase baixando o capacete e dando a partida. A moto roncou embaixo das minhas pernas, fazendo coro com a gargalhada alta de Jacob.
- Claro, claro! Só que você vai ter que me provar. – ele disse com um sorriso debochado nos lábios, enquanto eu caminhava para trás, tirando a moto da vaga da vaga.
- Quando você quiser, é só marcar. – respondi e acelerei a moto deixando Jacob para trás.
Eu andava pelas ruas movimentadas de Port Angeles, procurando o endereço da loja que Chris havia me indicado. Subi a E 1st St, procurando o número da loja até chegar à esquina da Penn St. Chris havia dito que era perto do Mcdonalds, o que para mim seria perfeito, já que eu estava com muita fome. Olhei em volta, enquanto esperava o sinal abrir, e a direita nessa rua reconheci os grandes arcos dourados. Mais alguns metros e cheguei à loja indicada. Ainda bem que eu era rápida, com certeza se viesse com Jacob não pegaria a loja aberta. Sai de lá pouco tempo depois, com meu vestido e meu sapato recém comprados dentro de uma sacola e os acomodei atrás do painel da moto, pois não era muita coisa. Dei a partida indo até a lanchonete, sem nem me preocupar de colocar o capacete que levei dependurado no braço, já que ficava a meia quadra dali.
Estacionei a moto perto da grande porta envidraçada. Prendi o capacete com a corrente e peguei minha bolsa e minha sacola, colocando os fones no ouvido. – Bonita moto! – um rapaz falou sorrindo, saindo de um Peugeot 308, conversível, prata, estacionado ao meu lado.
- Obrigada! Bonito carro! – respondi, retribuindo o sorriso ao garoto, nós dois entramos juntos na lanchonete. Só que no momento em que as portas se abriram, o cheiro amadeirado tão característico me acertou. Os garotos estão aqui! Pensei.
- Podemos sentar juntos?- o garoto me disse me fazendo olhar pra ele desconfiada - É que só tem uma mesa disponível. – apontou para a única mesa vazia.
- Claro! Mas você não está acompanhado? – perguntei.
- Não. - ele respondeu. – Que deprimente, não é? – ele perguntou me fazendo rir. – Enquanto você busca seu lanche eu poderia ficar segurando a mesa.
- Ok! – respondi indo direto para fila. Parecia que toda a cidade havia decidido jantar lá àquela hora. Varri o lugar com os olhos, logo reconhecendo a figura gigantesca de Jacob sentado de costas para a porta. Brady estava sentado em sua frente. Collin não estava com eles. Brady me viu e abanou exageradamente, como se precisasse disso para me chamar a atenção. Jacob seguiu o olhar dele, parando os olhos em mim. Sorri e abanei de volta para eles. Collin fez um gesto com a mão me chamando e eu fiz um sinal com a cabeça, mostrando que estava esperando na fila.
Peguei minha bandeja com meu lanche e fui até a mesa dos garotos. Eu não podia demorar, já que o coitado do rapaz estava me esperando, mas eu tinha que fazer uma presença.
- Oi! Cadê o Collin? – perguntei.
Jacob mudou de cadeira sinalizando que eu sentasse ao seu lado. Os dois tinham uma bandeja lotada de hambúrguer e batatas fritas na frente. – Ele está no Hank fazendo a tatuagem. – Brady respondeu puxando a manga da camiseta e mostrando a marca recém adquirida. – Que você achou? – ele perguntou orgulhoso.
- Ficou muito boa. – respondi. Eu ainda estava de pé, segurando a bandeja nas mãos.
- Não vai se sentar com a gente? – Jacob perguntou com as sobrancelhas juntas.
- Não, já tenho mesa. – falei apontando com a cabeça. Jacob olhou na direção, mas ainda parecia não entender, já que não havia mais nenhuma mesa vazia. – Nos vemos depois. – falei indo em direção ao meu companheiro de mesa.
- Achei que você tinha me deixado aqui. – o rapaz falou enquanto eu me sentava a sua frente.
- Desculpa, muita gente na fila. – respondi já tomando um gole do meu refrigerante, enquanto ele ia até o caixa, fazer o seu pedido. Mudei de lugar ficando de frente para o salão, assim eu tinha uma visão dos garotos. Jacob ainda estava virado, praticamente torto na cadeira, e olhava em minha direção de vez enquando.
Algum tempo depois o rapaz voltou. – Poxa, quanta gente! – ele exclamou. Eu já havia devorado metade do meu lanche. Jacob continuava sentado na sua mesa de costas para nós. Ainda esperavam por Collin. – Eu nem me apresentei direito. – o rapaz me disse chamando novamente minha atenção. – Sou David Connely. – falou estendendo a mão.
- Oi David. Sou
Raindrop. Prazer! – apertei sua mão.
FOTO DAVID

- Você é daqui de Port Angeles,
?
- Não, sou de La Push.
- La Push? Vou passar uma semana em La Push daqui uns dias, surfando. Você surfa? – David me perguntou sorrindo.
- Nunca tentei. – respondi sincera, antes de dar a última mordida no meu hambúrguer.
- E não gostaria de aprender? Eu posso te dar umas aulas enquanto tiver lá.
- Seria ótimo. Mas agora tenho que ir. – levantei juntando as embalagens para colocar no lixo.
- E como eu posso te encontrar? - ele perguntou.
- Meu pai é dono da única loja de pesca de La Push, eu trabalho lá as tardes. Muito obrigada pela companhia, David. – me despedi.
Olhei de volta para a mesa dos garotos dando um tchauzinho para o Brady. Jacob não se virou, continuando de costas para mim. Me virei indo em direção a porta dando de cara com Collin.
-
!
-Tudo bem Collin? Como ficou a tatuagem? – perguntei. Collin na mesma hora flexionou o braço para mostrar os músculos e a tatuagem no ombro, recém adquiridos. – Ficou muito bom, parabéns!- falei o deixando mais orgulhoso.
- Já está indo? – ele perguntou.
- Sim, estou no turno da noite. Nos vemos mais tarde, meu querido. – me despedi dele e olhei mais uma vez para as costas de Jacob.
Sai pela porta chateada, impossível ele não ter percebido que eu estava indo embora. Coloquei o capacete e subi na moto. Não resisti o forte impulso de olhar mais uma vez, mesmo não tendo mais esperanças, mas vi pela parede envidraçada que Jacob não estava mais sentado no seu lugar. Um grupo de pessoas estava saindo da lanchonete rindo, impedindo que eu pudesse procurar por ele. Virei pra frente dando a partida na moto e comecei a caminhar para retirá-la da vaga.
Quando fui impulsionar e acelerar com o punho para colocá-la em movimento, Jacob parou bem na frente da moto, segurando o guidão e bloqueando a minha saída.
- Não acredito que você vai sair sem se despedir direito! – a voz rouca de Jacob fez meu maldito coração delator se pronunciar.
- Eu me despediria direito se você tivesse pelo menos a decência de me olhar! – respondi secamente.
- Desculpe se eu não tenho o hábito de encarar garotas acompanhadas. – ele respondeu no mesmo tom, soltando as mãos da moto e cruzando os braços na altura do peito sem sair da minha frente.
Ri sem humor. Tirei o capacete e desliguei a moto. – Jacob, eu não sei o que você pensa de mim, mas eu não fico dando em cima de todos os garotos que conheço. Eu não sou assim, Jake. – disse num tom de voz baixo.
Jacob mudou de expressão, de irônico e seco para alarmado em segundos. - Eu nunca disse isso
! Eu nunca pensaria isso de você!
- Ok! Olha, eu adoraria muito ficar conversando com você, Jake. Mas agora por favor, quer me deixar ir? Eu tenho que patrulhar a noite toda.
Ele me puxou para os seus braços. Eu me senti uma criança perto dele, já que estava sentada na moto, encostando meu rosto na sua barriga. Aspirei seu cheiro maravilhoso passando os braços pela sua cintura – Dirige com cuidado, ok? – ele me deu um beijo nos cabelos me soltando em seguida.
- Pode deixar chefe! - falei colocando o capacete novamente, ligando a moto e partindo em direção a La Push.
Já era sábado pela manhã, e eu estava no meu quarto remoendo a idéia de levar a moto para casa de Billy. Passei um bom tempo tentando me convencer, que a idéia não tinha nada haver com o fato de que desde terça eu não via Jacob. Mas nem a mim eu estava conseguindo enganar.
Parei a moto em frente à casa de Jacob, tirei o capacete e desci. Não chovia, mas parecia que não continuaria assim por muito tempo. Dei a volta para chegar à porta da casa dando de cara com uma caminhonete, muito parecida com a de John, só que vermelha, mas igualmente aparentando bastante desgaste. Paralisei.
-
! - a voz de Billy me acordou das minhas distrações e comecei a caminhar em direção à casa novamente. Eu sorri para ele, acenando enquanto apertava o passo para chegar logo. Já estava com meu sentido de lobo sinalizando que algo muito errado estava acontecendo. Vesti minha máscara, mas Billy não desgrudava os olhos do meu rosto, acredito que não o enganei.
- Oi Billy! Jake está?- Billy me olhou profundamente, analisando todas as minhas reações.
- Não minha querida, ele saiu cedo!- dei uma olhada de canto de olho para a caminhonete estacionada.
- Com Sam? –perguntei já sabendo a resposta.
- Não!- Billy parou parecendo testar meu humor- Bella resolveu fazer uma visita surpresa!
Paralisei o sorriso no meu rosto, trancando qualquer reação. Eu estava ficando boa nisso, afinal eu sabia que isso, mais cedo ou mais tarde, iria acontecer. - Ok!- consegui finalmente dizer- Você pediria para ele me ligar depois?
- Claro, claro! Mas não quer ficar e esperá-lo aqui?- disse Billy sugestivamente.
- Não Tio, eu realmente tenho coisas para fazer, só queria deixar a moto!
- Mas porque você não vai levando a moto para garagem e espera um pouquinho? Logo ele deve estar de volta. - entendi a jogada de Billy, ele queria que eu fizesse presença, demarcasse território, mas eu não tinha forças suficientes para isso. Para uma guerra que eu sabia que estava perdida.
Assenti indo em direção a moto. Comecei a empurrá-la rápido, toda a insegurança me dominando. Reuni minhas últimas forças, para dar um aceno e um sorriso forçado para Billy, que claramente ele não comprou. Mas foi só entrar na garagem escura que minha máscara escorregou. Respirei fundo tentando acalmar os tremores que já se espalhavam pelo meu corpo. Dessa vez eu não iria conseguir me controlar. Sai correndo da garagem torcendo para que Billy não me visse. Não esperei nem chegar a floresta para explodir em loba, mandando minhas roupas para o espaço. Peguei minha mochila com os dentes e depois comecei a correr. Cravei minhas unhas na terra para aumentar o impulso e aproveitei para construir meu espelho protetor em volta dos meus pensamentos, não queria ninguém xeretando neles,
A chuva fina começou a cair molhando meu pêlo prateado. Subi até ao alto de uns dos penhascos que davam para costa e me deitei, olhando a linha de onde o oceano se fundia com o céu no horizonte. Fiquei lá por um bom tempo, até que a fome me forçou a voltar para casa.